Meus caros amigos,
Há muito temo o chegar da minha vez de escrever estas palavras, assim como tantos outros que por aqui, um dia passaram.
Em meados do ano de 2006 cheguei para esta cidade. Uma tarde de domingo chuvosa, encoberto por nuvens, assim como eu, na tristeza de ter deixado as minhas Minas Gerais.
Os primeiros 6 meses se desenrolaram de forma dificultosa, incomodado pela saudade e choque de hábitos e cultura. Muito diferente dos próximos três anos e meio que os sucederiam.
Apesar das primeiras tropeçadas, aprendi a correr em passos largos na vida que descobri acontecer nesse lugar.
Fiz amizades para sempre, festas – algumas que nunca serão esquecidas-, passei frio de "arrenguiar cusco", calor de fazer inveja a qualquer baiano, vi pedras de gelo caíram do céu, mas ao certo vivi de verdade todos os dias que estive nesses pampas.
Dias dos quais hoje me despeço, com tristeza muito maior que aquela que comparei à tarde de domingo chuvosa. Um sentimento muito estranho de descrever. É como se de um dia para outro, eu não mais fosse o protagonista da minha vida. Um filme que acabou quando ainda se queria mais, mesmo sabendo que a hora do final, de fato, é essa.
Aqui conheci um povo que de suas façanhas se orgulha, pessoas das quais me orgulho de ter conhecido e de poder levar comigo onde quer que eu vá. Umas, de forma mais intensa, outras, de forma mais sutil, mas é certo que levo muito mais do que nunca poderei dar.
Da padaria onde tomei vários cafés da manhã, dos almoços de domingo no Tênis, em Libres ou na Praça. Das "cervezas" e "champagnes" no Casaredo, do Armazém 42, do Bodega, do Rivers, das tarde de compras em Rivera.
O café da praça! Como pude quase me esquecer!? Mas está aí! O café da praça. Se pudesse levava aquela praça comigo, com o Barão e tudo, para quem sabe um dia meus filhos escorregarem no pedestal nele.
Aí enumerei os lugares. Se eu for citar as pessoas que estiveram em cada um deles comigo, se for descrever a felicidade que pude experimentar aqui, não vão sobrar lágrimas nos olhos.
Mas é assim, como disse a raposa ao pequeno príncipe: "-Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".
Meus caros, eu que vim Mineiro e Ipatinguense convicto, deixo agora este lugar, um Uruguaianense de coração.
Às vezes me pego questionando o porquê resolvi ir. Porque pedi minha remoção!? E no fundo é simples de pensar e difícil de absorver.
O meu trabalho me acompanha país a fora, minha família sempre foi muito importante para mim, e, portanto, é para ela que estou voltando.
O risco de se apaixonar é esse. Coração, agente só tem um a perder. E o meu ficou aqui com essa cidade, com meus amigos e com essa Receita Federal em Uruguaiana.
Sou muito grato por tudo e desejo que por aqui passem pessoas dignas o suficiente para merecer tudo que Deus e essa terra me proporcionaram.
Um grande abraço a todos vocês.
Bruno Almeida Barbosa Fonseca
